Eram apenas meninos. Que corriam atrás da bola e de um sonho comum: chegar aos profissionais, se tornar titular e, quem sabe, ídolo da maior torcida do país, garantindo vaga na seleção brasileira e, claro, o “grand finale’, fazer fortuna, jogando num grande clube do futebol europeu.
O futebol para eles era, na maioria dos casos, a forma de driblar as condições financeiras precárias dos pais, que enxergavam no esporte a grande chance de ascensão social dos filhos e, por que não, a salvação econômica de toda a família.
Moravam na concentração, no Ninho do Urubu, em Vargem Grande, porque não eram do Rio, o que tornava ainda mais complicada a batalha deles pelo sucesso. Afastados do pai e da mãe, dos irmãos, dos demais parentes, dos amigos, para todos eles, faltava esse tipo de apoio tão importante nos momentos difíceis. Não havia ombro amigo, para chorar contusões, lamentar derrotas e discutir barrações.
Por isso, os adversários, nos jogos, nem eram os seus rivais mais ferrenhos. Quem já viveu por longos períodos longe de casa, sabe muito bem como dói a saudade. Ainda mais quando se é tão jovem.
São poucos, muito poucos os meninos que conseguem sair da base e ter sucesso de verdade entre os profissionais. Vinícius Jr. é a exceção das exceções que confirma a regra. Eles sabiam disso. Mas nem assim abandonavam a ilusão que alimentavam com empenho e dedicação, dia após dia, treino após treino, jogo após jogo, até a última gota de suor.
Na noite da última quinta-feira, após mais um dia de treinamentos duros, foram dormir, sonhando com um futuro paradisíaco, como o de Vinícius. Acordaram num inferno de chamas que pôs fim às suas fantasias e às suas próprias vidas.
Para Arthur, Athila, Bernardo, Christian, Pablo, Jorge, Samuel, Gedson, Rykelmo e Vítor, o sacrifício feito até ontem, infelizmente, foi em vão. De forma trágica, o futuro desses garotos, literalmente, se transformou em cinzas. São agora anjos de chuteiras, que vão chutar e defender bolas de nuvens, nos gramados do céu.
Que São Judas Tadeu, padroeiro do Flamengo, os receba com o carinho que merecem e que os dirigentes do clube tenham a honradez de cumprir seus compromissos com eles, apoiando psicologicamente e suportando em termos financeiros as famílias devastadas por tamanha tragédia.
E que todos os clubes do Brasil aproveitem tão triste ocasião para fazer rigorosas inspeções nas instalações de suas divisões de base, equipando-as com os instrumentos necessários para evitar novas calamidades como a que ocorreu no Ninho do Urubu. Não somente o Flamengo, mas todo o mundo do esporte está em choque e de luto.
Descansa em paz, molecada!
Comentários
9 ComentáriosRenato Carvalho
fev 9, 2019O que é estranho, muito estranho, é que até agora o Bandeira de Mello não tenha se pronunciado nem ao menos para prestar condolências às famílias. E que tal falar de sua responsabilidade, já que deixar os meninos naquele micro-ondas foi seu legado? Também não vi nenhum post, tuíte ou qualquer manifestação nas redes sociais dos jogadores profissionais do Flamengo. Pra finalizar, quem deveria ser penalizado são os dirigentes e não a instituição. O Brasil cansa e o futebol já era há muito tempo.
Victor Fernando Guimarães Vieira da Cunha
fev 9, 2019Tudo muito triste! E no nosso Flamengo que tem buscado se reestruturar administrativa e financeiramente, investindo em melhorias no CT e na sede social. Que os dirigentes tenham a clareza da gravidade dos fatos e proporcionem todo o suporte às famílias que perderam seus filhos e também daqueles que sobreviveram.
CARLOS LOURENÇO
fev 9, 2019LUTO. Não só rubro-negro, mas também verde-amarelo. Todo o Brasil está de luto. Depois da bela crônica do Renato, nada mais a acrescentar. Somente acusar. Os responsáveis pela tragédia são única e exclusivamente as diretorias do Flamengo, atuais e passadas. Na surdina, sem autorização da Prefeitura do Rio, construíram esses dormitórios em local inapropriado que estava licenciado apenas para estacionamento de veículos e nunca como hotel ou alojamento de jovens. Segundo afirmam, a fiscalização municipal já havia aplicado ao clube 17 multas pela flagrante irregularidade e mesmo assim não corrigiram o erro. Talvez agora, depois das 10 mortes e a destruição do fogo eles resolvam tomar uma atitude, mas será tarde de mais para as famílias enlutadas. Todo conforto a elas neste momento.
plauto benevides
fev 9, 2019Mais Uma Vez Parabens, pela Lucidez e Honradez, nos seus Comentários
Bruno Martins
fev 9, 2019Obs.: Que punam-se os responsáveis em colocar a vida dos meninos em risco, seja o clube, presidente ou o raio que o parta, chega de descaso com vidas humanas.
Bruno Martins
fev 9, 2019O título deveria ser: Cartolas Safados
Marcelo
fev 10, 2019Amo meu país, mas tenho vergonha de ser brasileiro. Uma tragédia dessa em qualquer país com o mínimo de dignidade era caso de afastamento imediato dos dirigentes e inabilitação eterna dos envolvidos em qualquer atividade esportiva. Banimento, sem prejuízo de severa sanção penal. Inúmeras multas foram aplicadas, mas nada de efetivo se fez. Culpa também da administração pública. Um escárnio e uma vergonha mundial. E já se sabe de antemão que ninguém será punido. Pobres vidas pagando por sermos quem somos.
Kennedy Sobreira
fev 10, 2019Meus sentimentos as famílias dos jovens.
O futebol mundial está de luto
Renato Carvalho
fev 10, 2019Quem tem que ser penalizado são os dirigentes, incluindo o Bandeira e sua administração, e não o Flamengo. Se a instituição for penalizada, seus torcedores é que sofrerão, óbvio. Esses caras deveriam sustentar essas 10 famílias pelo resto da vida. Cadê os jogadores profissionais que com seus salários milionários não se manifestam com um gesto de grandeza com uma gorda doação, incluindo a do Abel? Tudo isso me dá nojo e uma profunda indignação.